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Apelo da Fox Sports ao espectador é um abuso

Mauricio Stycer

09/02/2012 13h01

A Fox Sports prometeu exibir a Libertadores sem ter ainda fechado acordo com as operadoras para isso. Este é o aspecto mais grave, a meu ver, do atual impasse que está privando a maior parte dos assinantes de TV paga no Brasil de ver partidas do torneio.

A emissora resolveu apelar para a paixão do torcedor, conclamando-o a cobrar de sua operadora uma solução para o problema. "Ligue e peça", orientou o narrador João Guilherme. Fala sério! É golpe baixo transferir o problema da emissora para o espectador. Como disse José Trajano, da ESPN, trata-se de  briga de cachorro grande, que envolve grandes conglomerados de comunicação, brasileiros e estrangeiros.

Mas vejo algo de positivo neste episódio.

Se ainda não tinha percebido, me parece agora impossível não notar que, no negócio bilionário em que se transformou o futebol, o torcedor-espectador é um consumidor com muito poucos direitos no Brasil.

A chegada da Fox Sports ao país é positiva por aumentar a concorrência e a diversidade na cobertura de esportes na televisão, mas o modelo que hoje impera, de venda e compra de direitos "exclusivos", deixa o espectador sempre refém.

É refém, primeiro, de quem compra um determinado torneio e o exibe como e quando quiser. E é refém, depois, das emissoras concorrentes, que se desinteressam dos eventos que não podem exibir.

Diferentemente de outras mercadorias e serviços, cujos preços e qualidade são influenciados pela concorrência, o esporte exibido com "exclusividade" não estimula uma emissora a melhorar sua transmissão, por exemplo.

Não sei qual é a solução para este problema complicado e de alcance planetário, por sinal. Mas sei que, neste quadro, o pedido da Fox Sports para que o espectador interceda junto às operadoras com o objetivo de ver os jogos do seu time na Libertadores é um abuso.

Atualizado no dia 10 de fevereiro às 12h: A Fox Sports divulgou comunicado nesta sexta-feira informando que o seu sinal estará disponível, na próxima terça-feira, dia 14, para assinantes de seis operadoras (CTBC, Nossa TV, Telefônica TV Digital, TVA, Oi TV, RCA), além 28 associados da NEO TV. Segundo a emissora, isso alcança 1,3 milhão de assinantes. Ou seja, dez dias depois de ir ao ar, a programação da emissora estará disponível para cerca de 10% do total de assinantes de TV paga no Brasil.

A Fox informa ainda: "Continuamos negociando com as demais operadoras, com o objetivo de fazer nosso conteúdo de qualidade chegar ao maior número possível de telespectadores brasileiros".

Essas informações reforçam o meu ponto de vista, expresso no primeiro parágrafo deste texto. Repito: A Fox Sports prometeu exibir a Libertadores sem ter ainda fechado acordo com as operadoras para isso. Este é o aspecto mais grave, a meu ver, do atual impasse que está privando a maior parte dos assinantes de TV paga no Brasil de ver partidas do torneio.

Leia mais: Torcedores estão de mãos atadas, dizem especialistas

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.