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Para atacar Globo, Record distorce texto deste blogueiro

Mauricio Stycer

22/01/2012 21h34

No seu esforço de faturar com o escândalo no "BBB12", ocorrido na concorrente Globo, a Record citou um artigo que escrevi para a "Folha", publicado na última quarta-feira (18), mas o tirou do contexto e deu a entender que escrevi coisas que não estão no texto.

Apresentada no "Domingo Espetacular", a reportagem da Record exibiu na tela uma reprodução do texto,  mas não deixou claro que escrevi exclusivamente sobre a edição do último domingo do programa. E não fiz nenhuma menção à edição do debate entre Collor e Lula, em 1989, como sugeriu a Record.

Autorizado pela"Folha", reproduzo abaixo o texto, na íntegra:

"Operação-abafa no 'BBB12' lembra os piores momentos da Globo"

Mais surpreendente do que o próprio episódio que resultou na eliminação de um candidato do "BBB 12" por suspeita de estupro foi a tentativa da direção do programa de varrer a baixaria para debaixo do tapete.

A operação-abafa, urdida na manhã de domingo, 15, foi sustentada até o final da tarde do dia seguinte. Nesse meio-tempo, o diretor do programa, Boninho, desdobrou-se em entrevistas, dando versões desencontradas e, em alguns casos, inexatas sobre o que de fato ocorreu.

O ápice da tentativa de reescrever a história ocorreu na noite de domingo, um dos dias nobres do "BBB".

A edição do programa não apenas deixou de mostrar as cenas mais picantes da noitada anterior como ainda deu a entender que Monique, a suposta vítima de Daniel, fez um jogo de "morde e assopra" com ele nos momentos que antecederam a suspeita movimentação do modelo sob o edredom.

A cereja do bolo desse momento foi a cínica intervenção do apresentador Pedro Bial, que resumiu tudo assim: "O amor é lindo". O caso lembrou algumas das maiores escorregadas da Globo, como a deliberada confusão que fez na cobertura do comício das Diretas de 1984, transformando-o numa festa pelo aniversário de São Paulo.

Além de não mostrar as imagens que poderiam ajudar o espectador a julgar o episódio por conta própria, Boninho ainda tentou distrair a opinião pública com a carta do "racismo". Também não funcionou.

É preciso ressaltar que o cuidado do programa em não acusar Daniel é correto. O "BBB" não é polícia nem Justiça. Mas isso é muito diferente da tentativa feita de iludir o público sobre o ocorrido.

As festas do "BBB", regadas a quantidades industriais de bebidas alcoólicas, destinam-se basicamente a criar situações a serem exploradas posteriormente pelo programa. Gafes, gritarias, baixarias, beijos roubados, escorregões e gemidos sob o edredom fazem a alegria de quem edita a atração e, depois, do público que assiste.

O episódio que envolveu Daniel e Monique, nesse sentido, não chega a ser surpreendente. Foi apenas um ponto fora da curva. Mais cedo ou mais tarde ocorreria.

A novidade é que a edição deixou escapar um vídeo de quatro minutos, que ganhou a internet e se espalhou em velocidade espantosa; 2012 não é 1984.

Foi essa difusão que transformou a operação-abafa de Boninho em pó, levou o governo federal a se manifestar e colocou a polícia no Projac.

Apesar do Ibope em queda, o "BBB" é um dos programas mais bem-sucedidos da Globo, respondendo por um faturamento da ordem de R$ 380 milhões em 2011.

Responsável direto por este sucesso, o diretor parece ter acreditado que, com seu toque de Midas, seria capaz, mais uma vez, de reescrever a história.

Em tempo: Mais detalhes sobre a reportagem do "Domingo Espetacular" podem ser lidas aqui.

Atualizado às 13h de 23 de janeiro: Recebi às 12h55 um e-mail da coordenação de imprensa da Record, que diz: "Sobre a matéria do Domingo Espetacular de ontem, a Record pede desculpas. Foi um erro interno e já estamos fazendo a devida correção na matéria."

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.