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Boninho, aprendiz desajeitado do "Big Boss"

Mauricio Stycer

21/01/2012 06h01

Como prometi, tenho deixado para o site especial do UOL os meus comentários sobre o "BBB12". Aproveito que hoje é sábado para abrir uma exceção e republicar um texto que escrevi sobre a orientação dada pelo diretor Boninho aos participantes do programa.

Reality tenta imitar "1984" e transforma Daniel numa "impessoa"

"Vamos abrir um canal de comunicação com a casa mais patrulhada do Brasil", disse Pedro Bial na noite de quinta-feira (19), trocando a palavra que sempre usa, "vigiada", por uma outra, com um sentido mais irônico.

Bial provavelmente estava se referindo às críticas pesadas que o programa vem sofrendo desde que, na madrugada de sábado (14), o modelo Daniel e a estudante Monique protagonizaram uma cena ainda mal explicada sob o edredon.

Da minha parte, como já escrevi, o episódio serviu para mostrar as dificuldades da Globo em lidar, com um mínimo de transparência, com uma situação que a envolve negativamente.

A esta altura, a emissora já tomou as rédeas da situação e está dando a publicidade devida ao caso. Menos em um lugar: justamente dentro da "casa mais vigiada do Brasil".

No famoso romance "1984", George Orwell descreveu um mundo terrível, vigiado pelo "Big Brother", onde as pessoas falavam um idioma repleto de eufemismos, chamado "novilíngua".

No regime autoritário imaginado por Orwell, as pessoas que tinham opiniões divergentes simplesmente desapareciam sem deixar traços. Eram chamadas, em "novilíngua", de "impessoas".

É exatamente isso, uma "impessoa", que o modelo Daniel virou dentro do "BBB12". Como contou Analice ao UOL, ao deixar a casa, os candidatos foram proibidos de falar do rapaz.

"Assim que avisaram para a gente que ele estava fora do jogo, ficamos todos perplexos, mas não passaram nada para a gente. Começamos a especular, mas ninguém sabia de nada. Até agora, não sabemos. Mas, quando entramos de volta, comentamos o assunto e recebemos orientação para não comentar".

Cria-se, assim, uma estranha situação na qual o assunto mais comentado no país é interditado justamente aos protagonistas do show. É mais um erro que o diretor Boninho comete neste episódio. Só ajuda a reforçar a impressão de que controla um show e morre de medo da realidade.

Comparado ao "Big Brother" de Orwell, o "Big Boss" Boninho é, felizmente, apenas um aprendiz desajeitado.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.