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“Fina Estampa” exagera em lição de honestidade e cai no ridículo

Mauricio Stycer

16/12/2011 11h51

Com seus rígidos princípios e valores morais, a personagem Griselda (Lilia Cabral) é uma espécie de ação de responsabilidade social ambulante na novela "Fina Estampa". Todas as suas falas e ações são marcadas por lições com caráter educativo, destinadas a ensinar o espectador a distinguir o certo do errado.

Amália (Sophie Charlotte), filha de Griselda, segue os passos da mãe. Apaixonada por Rafael (Marco Pigossi), ficou arrasada depois de ser informada que o rapaz montou um esquema fraudulento de venda de peças na revendedora de motocicletas onde trabalhava. Rompeu o namoro e disse que só voltaria a vê-lo depois que ele confessasse seu crime à polícia.

Esse drama moral se arrastou por quase um mês. Ambos apaixonados, mas separados por imposição da moça, Amália e Rafael ficaram devastados. Atormentado por culpa e medo de ser preso, o rapaz virou um zumbi, enquanto a moça chorava pelos cantos em todos os capítulos.

Até que esta semana, Rafael decidiu confessar seus crimes. Entrou na delegacia e se apresentou. No capítulo de quarta-feira, descreveu em detalhes a sua atividade criminosa. Na quinta-feira, o delegado o dispensou, informando que por ser réu primário terá direito a seguir em liberdade enquanto durar o inquérito policial.

Deu-se então o momento mais cômico da trama, não sei se por ingenuidade do personagem ou por real indignação do autor, Aguinaldo Silva. Rafael não se conformou de ser libertado. "Vai ficar tudo por isso mesmo?", protestou. "Mas como é que pode isso? Eu cometo vários crimes, venho aqui, me entrego e, de repente, estou liberado. Que Justiça é essa?".

O delegado ainda observa: "Garoto, você está brincando comigo?" E Rafael insiste: "Não, estou falando sério". E diz então, com a cara mais séria do mundo, a frase que me fez rir: "Posso pelo menos passar a noite aqui?" Ao que o delegado oferece: "Você pode varrer a delegacia se você quiser". E Rafael: "Onde é que está a vassoura?"

A cena pode ser vista aqui.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.