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A dupla coragem de Ale Rocha

Mauricio Stycer

06/12/2011 12h30

Escrever sobre televisão aberta no Brasil exige certa dose de coragem – e não apenas estômago. Trata-se da forma mais popular de entretenimento e, por isso mesmo, da mais sujeita a apelações de todos os tipos. Afrontar o senso comum, papel do crítico em qualquer área, costuma ter consequências épicas para quem avalia a programação da TV, em especial num veículo tão democrático e popular quanto a internet.

O jornalista Ale Rocha sabia disso, mas não deixava que o barulho provocado por seus textos afetasse o seu julgamento. Um dos pioneiros a escrever sobre televisão em blog, ele morreu precocemente, nesta terça-feira, aos 34 anos, em decorrência de complicações de um transplante de pulmão.

Foi, aliás, o diagnóstico terrível, em 2005, de uma doença incurável, a hipertensão arterial pulmonar idiopática, que o levou, no ano seguinte, a criar o Poltrona, um blog dedicado à programação da TV.

Nestes seis anos, Ale mergulhou no universo pouco saudável da televisão brasileira ao mesmo tempo em que lutava pelo transplante de pulmão, única possibilidade, ainda que arriscada, de prolongar a sua vida.

Acompanhei os últimos três anos da luta pela vida de Ale, abertamente discutida por ele nas redes sociais, e sempre fiquei admirado com a sua coragem.

Simultaneamente, me tornei leitor assíduo de seus textos sobre TV. Mesmo não concordando sempre, aprendi muito com ele, tanto com a sua insistência em cobrar qualidade da programação quanto em reconhecer, sem reservas, as boas iniciativas.

Um resumo da produção de Ale Rocha foi publicado em "Poltrona – O livro do maior blog brasileiro independente sobre TV" (BlogBooks, 196 págs. R$ 22,90). Para quem não o conheceu, é um bom aperitivo.

Atulizado às 17h de 7 de dezembro: A mãe do Ale, Marina, deixou um comentário no blog, que compartilho com os leitores: "Tenho muito orgulho deste garoto! Sou mãe do Ale e estou comovida com tantas homenagens. Ele é uma pessoa especial e abençoada por ter tantos amigos como vocês."

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.