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Sai Sócrates, mas as batalhas continuam

Mauricio Stycer

04/12/2011 13h54

Pelo que fez em campo, Sócrates integra um grupo pequeno, o dos gigantes do futebol brasileiro. Pela capacidade de reflexão sobre o seu ofício, ocupa um lugar único. Nenhum atleta brasileiro foi capaz de pensar sobre os diferentes aspectos do esporte, questionar os seus problemas e propor soluções com a sua coragem e inteligência.

Some-se a isso, Sócrates construiu uma imagem pública fascinante. O "antiatleta", como ele dizia, sempre fumou e bebeu, era um iconoclasta, sem papas na língua, tinha prazer em chocar os mais conservadores com seu humor refinado e era de uma simpatia a toda prova.

Essa raríssima combinação – gigante em campo, gênio na tribuna, carismático no dia-a-dia – obrigou muita gente a engolir Sócrates a contragosto. Na verdade, num país com a estrutura esportiva pré-histórica que ainda tem o Brasil, Sócrates sempre foi um incômodo para quem, de fato, manda  – dirigentes, políticos e empresários ocupados exclusivamente com os seus próprios interesses e negócios.

Além da tristeza gigante pela morte tão precoce de Sócrates, sinto muito também por achar que as principais batalhas que enfrentou ainda estão muito longe de ter um desfecho positivo. Mas não são batalhas perdidas. Sua voz será sempre lembrada por aqueles que sonham com um mundo esportivo mais justo.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.