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Patrocinador cancelar exposição não é censura; são só negócios

Mauricio Stycer

29/11/2011 10h59

O cancelamento de uma exposição da fotógrafa americana Nan Goldin no Rio de Janeiro expõe, mais uma vez, o estado de dependência das artes em tempos de domínio do marketing. Creio ser um erro chamar de "censura" a atitude do espaço cultural Oi Futuro, que desistiu de exibir as imagens mesmo depois de ter pago por este direito.

A empresa chegou à conclusão que a exibição das fotografias de Nan Goldin poderia resultar em danos para a sua imagem e o seu projeto educativo. Não está em jogo a qualidade do trabalho da fotógrafa, mas a avaliação de custo e benefício que o patrocinador fez.

Censurar a exposição seria proibi-la, o que só é possível, hoje, no Brasil, por decisão judicial. Pelo que leio, o Museu de Arte Moderna do Rio vai exibir a exposição que o Oi Futuro abriu mão de mostrar.

Chamar a atitude do patrocinador de "censura econômica" também não cola, na minha opinião. Não pretendo me estender aqui sobre o assunto, mas o problema não é da empresa, mas do fato de a cultura ser hoje basicamente uma questão de mercado.

Filmes, exposições, peças de teatro e até livros hoje dependem de diferentes leis que estimulam o patrocínio das artes em troca de renúncia fiscal e dão ao patrocinador o direito de escolher como bem quiser usar o seu dinheiro.

É nítido que este sistema está caduco e repleto de falhas, que provocam distorções em todas as áreas da cultura. As fotos polêmicas de Nam Goldin apenas ajudam a expor este problema.

Em tempo: Leia mais sobre a exposição cancela e veja algumas da imagens fortes aqui.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.