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Carlos Dorneles pediu para deixar a Record

Mauricio Stycer

18/11/2011 07h02

Um dos mais experientes repórteres da televisão brasileira, Carlos Dorneles pediu para sair da Record, insatisfeito com os rumos do jornalismo na emissora. A situação foi, aparentemente, contornada, mas o clima não está bom entre os profissionais que trabalham lá. A informação foi confirmada por este blogueiro com três profissionais da Record, que pediram anonimato.

A direção da emissora não concorda com o termo "crise", usado por mim no título de um texto publicado na quarta-feira, 16, para descrever a situação. Independentemente da palavra, é notável a insatisfação decorrente da queda na audiência do "Jornal da Record", que chegou ao seu nível mais baixo em outubro, e da exibição no "Domingo Espetacular" de uma reportagem utilizada pela Igreja Universal para atacar rivais religiosos.

Além de Dorneles, outros repórteres experientes, quase todos com longa história na Globo e em outras emissoras, têm manifestado incômodo com as novas orientações do jornalismo, feitas no esforço de recuperar o Ibope perdido. "Não estou fazendo jornalismo, estou fazendo entretenimento", disse um.

O alvo de muitas reclamações é o editor Rafael Gomide, originalmente responsável por programas como "Câmera Record" e "Repórter Record", hoje influente em todos os noticiários. É Gomide que assina a reportagem sobre o "cai-cai", exibida no último domingo.

Durante os Jogos Pan-Americanos, Paulo Henrique Amorim, apresentador do "Domingo Espetacular", teve uma discussão com Gomide que tornou-se pública. "Comigo você não mexe", teria dito Amorim ao editor do programa.

Atualizado às 13h45: Em resposta ao texto acima, a Record emitiu um "comunicado" no qual não contesta nenhuma das informações publicadas, mas diz que não há "qualquer sinal de crise" na emissora e sugere que os problemas relatados são fruto da  "permanente avaliação do trabalho". Abaixo a nota da emissora:

"A  Rede Record informa que o seu  Departamento de  Jornalismo conta com mais de 1000 jornalistas em todo o País e produz oito horas diárias de noticiário. Este trabalho das equipes de reportagens acaba de ser reconhecido com a conquista do Prêmio Esso de Telejornalismo  – o mais importante do Brasil. Com redações espalhadas por todo o Brasil e vários escritórios internacionais, o processo desenvolvido pelo  Jornalismo  da emissora é de permanente avaliação do trabalho. Esse ambiente democrático é necessário na busca da melhor informação e não representa qualquer sinal de crise."

Atualizado às 17h30: Em e-mail enviado às 17h25, o repórter Carlos Dorneles diz: "Eu nunca pedi demissão da TV Record. Se uma, duas ou três das suas 'fontes' disseram isso, mentiram." O repórter acrescenta. "Tive, sim, reuniões na semana passada em que pedi mudanças especificamente no trabalho que venho desenvolvendo na emissora. Em nenhum momento, falou-se em 'incômodo com novas orientações do Jornalismo' ou em 'insatisfação com a queda de audiência do Jornal da Record'." Fica o registro.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.