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Quatro livros, um só título, muita festa e pouca reflexão crítica

Mauricio Stycer

11/11/2011 15h42

 

 

 

 

 

Fato raríssimo, quatro livros sobre o mesmo assunto e com o mesmo título estão sendo publicados este mês. Todos se chamam "1981" e celebram o melhor ano da história do Flamengo. A coincidência na data de publicação se explica pelo fato de que, em 13 de dezembro, o clube e sua torcida vão festejar 30 anos de um jogo histórico, a vitória por 3 a 0 sobre o Liverpool, em Tóquio, que valeu o título intercontinental à equipe rubro-negra.

Como escrevi no UOL Esporte, os livros são diferentes e se destinam a públicos variados. Dois são escritos por jornalistas e dois são obras de pesquisadores. Os quatro reconstituem, cada um à sua maneira, as principais partidas disputadas pelo Flamengo no ano e os percalços enfrentados pela equipe, dentro e fora do campo.

Como toda obra de comemoração, os quatro "1981" privilegiam as conquistas, os feitos heróicos e a superação das dificuldades. Não são, por este motivo, livros críticos. E, infelizmente, não contribuem para uma reflexão mais séria sobre o futebol brasileiro.

Só o livro de Eduardo Monsanto manifesta alguma preocupação em olhar atrás das cortinas e embaixo dos tapetes. O jornalista da ESPN levanta alguns temas interessantes em seu relato. Descreve, por exemplo, a suspeita de um dos técnicos do time, Dino Sani, de que foi sabotado por dirigentes e jogadores antes de ser substituído por um de seus comandados (e hoje ex-amigo), Paulo Cesar Carpegiani.

Monsanto também relata a ajuda de João Havelange, então presidente da Fifa, ao Flamengo, fazendo uma "embaixada" no Confederação Sul-Americana. O livro menciona, ainda, o calendário maluco do futebol brasileiro, a suspeita de suborno de árbitros e o papel de jornalistas-torcedores na saga da equipe em 1981.

Nenhum destes temas, porém, é aprofundado ou merece uma reflexão crítica de Monsanto. A ótima pesquisa que realizou e o texto de ótima qualidade que produziu resultam num livro leve, que vai agradar aos fãs, mas que desperdiça uma ótima oportunidade de pensar sobre velhos e reincidentes vícios do futebol brasileiro.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.