Jerusalém de Roberto Carlos é uma cidade cenográfica
Do ponto de vista musical, "Roberto Carlos em Jerusalém" é um marco na carreira do Rei. Aos 70 anos, o cantor mostrou vitalidade, mudou o repertório que vinha repetindo há anos e arriscou-se em inglês, italiano e, até, em hebraico. Além disso, o carisma segue intacto, assim como a capacidade de emocionar gregos e troianos, e o vozeirão espetacular.
O que não me convenceu no show foi a intenção de criar "tantas emoções" em Jerusalém. "Cantar é uma forma de oração", disse Roberto Carlos logo no início do programa exibido pela Globo na noite de sábado.
Para um cristão fervoroso como ele, Jerusalém é uma cidade-símbolo, assim como é para judeus e muçulmanos. "Jerusalém da humanidade", disse o Rei. Mas como transferir essa carga de símbolos para um espetáculo musical?
Os responsáveis por "Roberto Carlos em Jerusalém", seu empresário, Dody Sirena, e o diretor Jayme Monjardim, da Globo, optaram por um formato asséptico, livre de polêmicas, que resultou absolutamente sem vida.
As visitas de Roberto Carlos ao Santo Sepulcro, ao Monte das Oliveiras e ao Muro das Lamentações, vistas pelo espectador, pareciam publicidade de agência de viagem. Sem som ambiente, sem contato com a gente do lugar, sem "emoções", enfim, o périplo do cantor por Jerusalém deu a impressão de que estava numa cidade cenográfica.
Impressão, aliás, reforçada pelo cenário do palco onde ele se apresentou. Roberto Carlos estava em Jerusalém, mas podia estar no Projac. Não faria a menor diferença. O Rei cantou numa Jerusalém idealizada, sem conflitos, sem vida. Uma cidade dos sonhos – dele e de seus fãs.
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