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Milton Leite e a Globo, Kajuru e a Band

Mauricio Stycer

22/07/2011 22h08

Causou enorme repercussão o texto que o narrador Milton Leite escreveu em seu blog sobre o perfil de Ricardo Teixeira publicado na revista "Piauí". Foi a primeira manifestação pública importante de um funcionário da Globo sobre o assunto desde que a revista trouxe as espantosas declarações do presidente da CBF.

Já as opiniões do jornalista Jorge Kajuru sobre o mesmo assunto, dadas ao programa "CQC", foram vetadas pela Band. Crítico ácido da gestão de Teixeira, Kajuru espantou-se ao assistir o programa na última segunda-feira, sem as menções que havia feito ao cartola.

Escrevi dois textos a respeito na sexta-feira, ambos publicados no UOL Esporte. Republico-os abaixo:

Milton Leite levantou a bola para a Globo cortar

As declarações de Ricardo Teixeira à revista "Piauí" haviam merecido, até o momento, apenas uma pálida nota oficial da Rede Globo, na qual a emissora reafirma a sua independência editorial, mas não comenta nenhuma das barbaridades ditas pelo presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa do Mundo.

Como se sabe, Teixeira disse que a Globo parou de criticá-lo, em 2001, depois que ele alterou o horário de uma partida da seleção brasileira. A revista "Piauí" lembra que a emissora teve a oportunidade de entrevistá-lo recentemente e não o questionou sobre as acusações de suborno e corrupção que envolveram seu nome na eleição do presidente da Fifa.

Depois de duas semanas de silêncio da Globo e de seus profissionais, o constrangimento provocado pela reportagem da "Piauí" foi quebrado por um texto elegante, mas incisivo, do narrador Milton Leite, publicado em seu blog pessoal.

Leite lamenta as declarações do presidente da CBF, os seus modos vulgares e sua prepotência. "Teixeira considera-se acima do bem e do mal, poderoso ao extremo, a ponto de menosprezar veículos de comunicação e autoridades sem a menor cerimônia. E mais: ameaçar com esse poder aqueles que pretendem cobrir a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, vetando credenciais e tentando dificultar quem quer trabalhar."

Por fim, o narrador observa que o governo federal, pelo papel que tem como investidor na Copa do Mundo de 2014, tem a obrigação de "frear" Teixeira.

Milton Leite tem toda a razão e não poderia ter dito nada além do que escreveu. Mas é impossível ignorar que o narrador levantou uma bola com perfeição para a Globo cortar. Por que a emissora não se junta ao coro do que estão indignados com as declarações e feitos do presidente da CBF?

Band vetou críticas a Ricardo Teixeira em quadro do "CQC"

Convidado do "CQC" a dar entrevista para o quadro "Resta Um", o jornalista Jorge Kajuru fez críticas duras, como de hábito, ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira, mas a Band vetou a exibição de suas palavras.

Segundo o UOL Esporte apurou, a emissora inicialmente vetou a íntegra do quadro, realizado pelo repórter Oscar Filho. Depois de alguma negociação interna, foram cortadas as menções a Teixeira, à apresentadora Luciana Gimenez e ao governador de Goiás, Marconi Perillo.

No lugar de fazer comentários sobre dez personalidades, como usualmente ocorre no "Resta Um", Kajuru falou apenas sobre sete pessoas no quadro exibido na noite de segunda-feira (18). "Cortaram 100% do que eu disse sobre o Teixeira, sobre a Luciana e sobre o Perillo", protesta o jornalista.

"Acho engraçado ver um programa como o 'CQC', que reclama tanto em Brasília da falta de liberdade de expressão fazer exatamente isso comigo", diz Kajuru.

A Band é, já há alguns anos, parceira da Rede Globo na exibição de partidas do Campeonato Brasileiro. A emissora carioca é dona dos direitos e os sublicencia para a emissora paulistana.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Band informou apenas: "O CQC grava muitas horas por semana e nem tudo que é gravado vai para o ar."

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.