Topo

Fascinante coincidência real

Mauricio Stycer

04/05/2011 15h24

 

 

 

 

 

 

 

 

Aproveito a oportunidade para publicar no blog o texto que escrevi para o UOL no dia do casamento, a respeito da cobertura das tevês.

Na TV, um festival internacional de gafes, abobrinhas e besteiras

De uma cobertura ao vivo, iniciada às 5h da manhã, não poderia se esperar outra coisa: imagens idênticas, excesso de especialistas, problemas técnicos, gafes e erros a granel. As emissoras brasileiras, porém, estão em boa companhia: o festival de besteiras e abobrinhas foi internacional.

Por volta das 5h10, uma repórter da CNN percorria as ruas de Londres e apontou o microfone para uma turista que segurava uma bandeira da Venezuela. "O que você está fazendo aqui?". Adivinhe a resposta: "Casamento", disse a mulher.

No canal pago E!, minutos depois, ao ver Victoria e David Beckham, a comentarista não aguentou: "Nossa, que homem bonito! Victoria está muito elegante, mas David está uma visão".

Na Fox, um dos troféus era a "correspondente especial em casamentos reais". "Estive no casamento da Diana", ela explicou. "Esse casal (William e Kate) se conheceu como todos os casais: na faculdade". E prosseguiu: "Esse casamento não foi arranjado. Ele disse: eu vou escolher a minha esposa."

No Brasil, a cobertura começou um pouco depois, antes das 6h, no SBT, Record e RedeTV, e também no canal pago Globo News. A Band veio na sequência. Na Globo, só um pouco antes das 7h, quando Kate Middleton chegou à igreja.

Ansioso, Carlos Nascimento, no SBT, anunciou a chegada da noiva na hora errada. Eram os pais dela. Ana Paula Padrão, na Record, chamou uma repórter dentro da abadia. Ela não apareceu… Problemas deste tipo se repetiram ao longo das mais de três horas de cobertura ao vivo.

Para tentar descontrair, Carlos Nascimento puxou papo com a correspondente do SBT em Londres, que entrou ao vivo: "Simone, a gente tá sentindo a falta do seu chapéu, mas você está tão bela quanto". A repórter sorriu amarelo e agradeceu o elogio.

Especialistas em tudo debatiam todos os aspectos possíveis da cerimônia. Na RedeTV, a certa altura, discutiu-se as diferenças entre Diana e Kate. A primeira "era muito nova" quando casou, alguém disse. A segunda "sabe o que quer", disse outro.

Na Globo News, alguém observou: "Dois filhos da rainha tiveram casamentos que acabaram em divórcio, mas tiveram momentos felizes também". Na Record, os especialistas discutiram sobre virgindade –Diana casou virgem. "Kate, não". E também sobre a melhor maneira de acenar para a multidão.

O vestido de casamento da princesa mereceu muita atenção. "Vestido extremamente severo. Ela optou por discrição", disse Gloria Kalil, na Globo. No SBT, a avaliação foi semelhante: "É uma simplicidade real". Na Band, um outro olhar: "Uma produção sofisticada, mas absolutamente contemporânea."

Renato Machado, na Globo, informou o nome da raça dos cavalos da carruagem real. Daniela Albuquerque, na RedeTV, deixou sua marca: "A rainha Elizabeth 2ª é uma Hebe Camargo da realeza."

Alguém, na Band, explodiu de felicidade ao ver uma imagem das ruas de Londres: "Olha a bandeira brasileira lá. Tá enrolada, mas é nossa!". E Ana Maria Braga concluiu a matinê com uma pérola: "Na hierarquia real vem primeiro o quê? Duque?" E seu convidado, educadamente, explicou: "Primeiro é a rainha."

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.