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É das gordinhas (e gordinhos) que a TV gosta mais

Mauricio Stycer

04/04/2011 08h00

Poucos desafios atiçam tanto a curiosidade alheia quanto saber se uma pessoa obesa terá a capacidade de perder peso. A televisão tem explorado esse filão com gosto nos últimos dez anos, período em que os reality shows ocuparam a programação das emissoras em todo o mundo.

Duas novas atrações voltam a tratar do tema na televisão brasileira. No canal pago GNT, Cynthia Howlett apresenta "Perdas e Ganhos". Cada episódio de 23 minutos resume 10 semanas de esforço de um personagem disposto a emagrecer sob orientação médica. No segundo capítulo, de um total de 19, Carolina Rausch (à dir. na foto, com Cynthia e o personal trainer) foi orientada a perder 10% de seu peso, o equivalente a 10 quilos – perdeu 16. Chorou de emoção ao ver o resultado.

No "Fantástico", na Globo, teve início neste domingo a saga – de 90 dias – dos apresentadores Zeca Camargo e Renata Ceribelli (na foto com o personal trainer), igualmente interessados em perder peso à vista do público. Ambos abriram suas casas, fizeram exames médicos e exercícios físicos acompanhados por câmeras. A partir da próxima semana, começaremos a ver os resultados.

Quem aprecia programas sobre emagrecimento não pode reclamar da falta de imaginação de quem cria estas atrações. As inúmeras variações em torno do assunto são, com perdão do termo, realmente apetitosas.

"Shedding for the Wedding", por exemplo, atualmente em exibição no canal americano CW, mostra a luta de casais obesos às vésperas do casamento. "Dance Your Ass Off", que foi exibido no Brasil pelo Multishow, tinha a proposta de fazer o candidatos emagrecer dançando.

A participação de celebridades e pessoas famosas nestes realities, como agora faz o "Fantástico", já foi explorada em diversos programas estrangeiros e brasileiros, mas de formas diferentes.

A ótima atriz Kirstie Alley (foto) tentou emagrecer em "Kirstie Alley's Big Life", exibido em 2010 pelo canal a cabo americano A&E. Antes, havia brincado sobre o assunto na série "Fat Actress", no Showtime. João Gordo fez a sua tentativa em "Legendários", na Record.

O rapper Kevin Federline, ex-marido de Britney Spears, perdeu peso numa das temporadas de "Celebrity Fit Club", exibido pelo VH1. E até Edgar Vivar, o Senhor Barriga do seriado "Chaves", arriscou encolher em "Cuestion de Peso".

O mais bem-sucedido programa do gênero é "The Biggest Loser", exibido originalmente pela NBC americana em 2004, e importado por meio mundo. No Brasil, o SBT o apresentou em duas temporadas e, bem ao estilo Silvio Santos, com dois títulos diferentes – "O Grande Perdedor", em 2005, e "Quem Perde Ganha", em 2007.

Todos estes realities apresentam um ponto em comum: perder peso depende de força de vontade, seguida de acompanhamento médico, nutricional e dedicação a exercícios físicos. Não parece haver mistérios na tarefa, mas mesmo assim estes programas se multiplicam.

A obesidade é um problema de saúde, de fato, mas creio que o interesse maior de todos estes realities é a possibilidade que oferece ao público de ver a humilhação e o sofrimento de quem, submetido a regimes de restrição alimentar, se dispõe a fazer isso publicamente.

Em poucos outros casos o aparelho de televisão funciona tão bem quanto espelho como nestes programas.

"Perdas e Ganhos" é exibido às terças, às 22h, no GNT, e reprisado ao longo da semana em diferentes horários.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.