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A nova Hebe: mais cafona do que nunca, simpática como sempre

Mauricio Stycer

16/03/2011 11h17

A estreia de Hebe Camargo na RedeTV, um novo passo numa carreira que tem a idade da televisão no Brasil, faz pensar sobre o raro lugar que ela ocupa no nosso imaginário.

Como apontou o sociólogo Sérgio Miceli, ainda na década de 70, em um célebre estudo, Hebe conseguiu construir a simpática imagem de "madrinha" – "a mamãe postiça e afável que distribui delicadezas, sorrisos e presentes, que comparece às festas e trata todos como filhos".

Esta imagem perdura até hoje e explica a condescendência de parte do público com todos os seus excessos – tanto o conservadorismo político quanto o mau gosto estético.

Num cenário que lembrava o Globo de Ouro, com seus convidados dispostos em mesas redondas num grande salão, Hebe chegou ao palco depois de percorrer parte do trajeto dentro de uma gaiola, suspensa por cabos de aço, ao som do tango de Gardel "El Dia Que Me Quieras".

Um concurso que eleja o momento mais cafona da TV brasileira em 2011 terá que considerar esta cena "hors concurs", caso queira dar chance a outros candidatos.

As primeiras palavras de Hebe no programa foram de agradecimento à Rede Globo, por autorizar a presença de um ator do seu segundo escalão, Daniel Boaventura, no programa. Depois, a apresentadora agradeceu a Silvio Santos, dono da emissora onde passou os últimos 25 anos, e por fim dirigiu palavras à atual emissora.

Entre mensagens aos seus diversos patrocinadores, Hebe recebeu em seu famoso sofá a cantora Paula Fernandes e os cantores Luan Santana, Daniel e Sergio Reis, além de entrevistar Paulo Coelho à distância. Um elenco, vamos dizer assim, abaixo da expectativa para uma estreia.

O programa também mostrou Hebe em ação no camarote da Brahma, no Sambódromo carioca, dando selinho em quem passava pela sua frente, de Ronaldo a Jude Law. A Jesus Luz, ex-namorado da cantora Madonna, ela perguntou: "Como você começou a fazer DJ?"

A melhor parte ficou para o final – uma longa entrevista com a presidente Dilma Rousseff, gravada no Palácio do Alvorada, em Brasília. "Estou inteirinha arrepiada", começou. "Estou vendo uma mulher diferente daquela que eu via. Ela tem uma doçura e um jeitinho de olhar…"

Quando Dilma disse que foi presa política na década de 70, a apresentadora exclamou, aparentemente surpresa: "Gente do Céu!" Conversaram sobre moda, religião, música, o câncer que ambas enfrentaram e,até, sobre medo de barata.

Esta é a "madrinha" Hebe. Este é o Brasil.

Em tempo: veja aqui como foi a audiência de Hebe na estreia.

Foto do programa: Wilians Valente/UOL. Foto no Alvorada: Divulgação/RedeTV

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.