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O Rio no limite: epopeia para chegar ao Sambódromo

Mauricio Stycer

07/03/2011 16h47

O bom momento econômico do país, aliado à recuperação do Carnaval de rua, transformou o Rio de Janeiro nestes dias de festa. Relatos divergentes falam em 500 mil, 800 mil e até um milhão de turistas na cidade – cerca de 10% são estrangeiros.

A zona sul está abarrotada de gente, os bares e restaurantes vivem lotados, o trânsito está caótico. A cidade está perto do seu limite, tenho a impressão.

No domingo, atendendo à recomendação das autoridades, resolvi ia para o Sambódromo utilizando transporte público. Às 19hs, deixei o local onde estava, no Leblon, com o objetivo de pegar o metrô na estação General Osório, em Ipanema. Para superar os três quilômetros de distância, pensei em pegar um ônibus ou um táxi. Missão impossível.

Os ônibus passavam lotados e os táxis cheios. Em todo o canto da avenida Ataulfo de Paiva, pequenos grupos faziam sinal, em vão, para táxis. Resolvi caminhar até o metrô.

Havia tanta gente na rua, por causa do desfile do bloco Simpatia É Quase Amor na praia (foto), que os carros e ônibus só conseguiam atravessar a avenida Visconde de Pirajá, a principal de Ipanema, em uma faixa. Não vi único um policial ou agente do trânsito no caminho.

Quando, finalmente, cheguei à entrada da estação de metrô, ela estava com as grades cerradas. Seguranças impediam a multidão de entrar. Só passageiros que já tinham o bilhete ou o cartão carregado conseguiam passar, de tempos em tempos.

Eram 19h45 e resolvi, então, caminhar até a estação seguinte, Cantagalo, em Copacabana. Centenas de pessoas faziam o mesmo. Uma romaria, pelo meio das ruas, atrapalhando o trânsito.

No túnel que separa a Barata Ribeiro da Raul Pompéia, já em Copacabana, pessoas caminhavam no sentido inverso ao fluxo de veículos, muitas carregando nas mãos as fantasias que iriam utilizar na Marques de Sapucaí.

Depois de caminhar cerca de cinco quilômetros, cheguei à estação Cantagalo às 20h20. Outra surpresa. Lá dentro, sem ar-condicionado, centenas de pessoas faziam fila para comprar a passagem. Estimo que a fila tinha 300 metros.

Às 20h50, finalmente, cruzei a catraca e entrei no metrô. O ar-condicionado, para meu alívio, começou a se fazer sentir. Cinco minutos depois, chegou o trem. Bem cheio. Na estação seguinte, Siqueira Campos, subiram mais passageiros que haviam tentado entrar no metrô em Ipanema e desistiram. Uma moça explicava: "Peguei um bloquinho e vim sambando".

Às 21h20, o metrô chegou na estação Praça Onze. Mais dez minutos de caminhada e cheguei ao Sambódromo às 21h30, duas horas e meia depois que comecei esta epopeia. A São Clemente já estava na avenida.

Em tempo: as imagens que fiz desta romaria, com meu aparelho telefônico, não ficaram boas, infelizmente.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.