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Palmeirense resgata humor no estádio, mas corintiano ri por último

Mauricio Stycer

06/02/2011 20h28


Por volta das 15hs, sob um sol fortíssimo, uma pequena multidão apontou na avenida Pacaembu, em São Paulo, caminhando em direção à praça Charles Miller, onde fica o estádio do Pacaembu. À frente do grupo, quatro rapazes seguravam uma faixa branca, que dizia apenas: "ha ha ha". Nas duas pontas, o desenho de uma taça.

O grupo rumou direto para dentro do estádio, gritando "vamos chorar, gambás!". Eram da torcida Mancha Verde, a principal organizada do Palmeiras. Faltavam ainda duas horas para o início do clássico contra o Corinthians, mas o tom das provocações já estava anunciado.

A inesperada eliminação do Corinthians da Taça Libertadores da América, quatro dias antes, seria o assunto principal do clássico. Como o mando de campo era do Palmeiras, os torcedores alviverdes ocuparam a maioria do estádio. Aos corintianos ficou reservado o Tobogã, que eles não lotaram.

"Eliminado!", começou a torcida do Palmeiras. "Pqp! Libertadores o Corinthians nunca viu!", prosseguiu a cantoria. Até chegar ao grito mais ouvido no estádio: "O sonho acabou".

Os palmeirenses também gritaram muito "Não é mole, não! Ronaldo tá comendo macarrão", numa referência ao excesso de peso do atacante, e, suprema ironia, "Tolima!", nome da equipe colombiana que eliminou o Corinthians. Uma bandeira da Colômbia com o nome do time chegou a ser aberta na área da Mancha Verde.

A maior gozação ocorreu poucos minutos antes da partida, quando os torcedores montaram um mosaico, com papéis vermelhos, formando um "ha ha ha" gigante.

Todos os cuidados foram tomados para evitar brigas entre as torcidas e deixar os corintianos longe do próprio time. Além de um grande contingente de policiais armados com fuzis, os ônibus que levaram as duas equipes ao estádio não traziam as marcas e logotipos dos times.

O gol de Alessandro ao final da partida mudou o humor de todo mundo no estádio. Os palmeirenses ainda gritaram "eliminado!", mas a piada ficou sem graça naquele momento e os corintianos se fizeram ouvir pela primeira vez.

Observei no Twitter, assim que o fraco juiz apitou o final da partida, que os corintianos riram por último. Ao sair do estádio, porém, dei de cara com a torcida alvinegra. Não estavam felizes. Fora os tradicionais gritos de "chupa, porco!", não exibiam a alegria que se espera ao final de um clássico. A dor da eliminação ainda vai demorar para passar.

Em todo caso, ao menos para mim, este jogo vai ficar marcado pela provocação bem-humorada, saudável, da torcida palmeirense com a rival corintiana. Foi nesse clima que aprendi a ver jogos de futebol, no Rio, na década de 70. Com piadas, de parte a parte, e sem violência.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.