Topo

Silvio de Abreu critica spoiler falso e venda de capítulos

Mauricio Stycer

14/01/2011 23h05

O autor de "Passione", Silvio de Abreu deu uma boa entrevista à repórter Laura Mattos, da "Folha", na última quinta-feira. Ela pode ser lida integralmente aqui. Recomendo. De qualquer forma, destaco no blog alguns trechos que me parecem especialmente interessantes.

Sobre "Passione"
Não gosto de novela morosa, o mocinho que vai casar com a mocinha e alguém não deixa. Gosto de novela ágil, que traga a cada dia um entretenimento diferente. Por isso misturo dois gêneros lúdicos, o thriller e a comédia, e coloco o melodrama de tempero. Cada gênero tem suas regras e é preciso segui-las de maneira que eles não entrem em choque.

Pistas

Dou sempre uma pista aqui e outra ali na trama e nunca minto, não dou pista falsa. Faço com que as soluções dos mistérios sejam algo que o público poderia ter deduzido. Quando a novela acabar, as pessoas podem ver o primeiro capítulo para ver que já havia ali os indícios da história que seria contada.

Vilões
Gosto que a novela seja um pouco espelho da sociedade, e não é verdade que na sociedade em que a gente vive os vilões são castigados. Não são quase nunca. A gente gostaria que fosse assim, mas não é. E quando fazemos a catarse, o mocinho é recompensado e o bandido, castigado, não deixamos a público pensar. Quando contrariamos o espectador, ele vai ficar discutindo isso. Por que o vilão foi solto?

Manchetes alucinantes
Revistas de TV fazem manchetes alucinantes e mentirosas. Vou contratar os editores para trabalhar comigo, eles têm uma criatividade imensa! Quando a TV se democratizou, com o Plano Real, a classe DE passou a ser importante. As revistas que antes custavam R$ 10 se dividiram em dez de R$ 1. Não há dez novidades por semana, então inventam com a maior desfaçatez. Nem eu nem meus colaboradores são fontes de informação. Mas isso me diverte. Deus me livre eu fazer uma novela que não sai na capa da revista.

Comércio de informação
Não gosto do comércio, de quem suborna funcionários da TV para ter os capítulos. Provamos que isso existia na "Próxima Vítima" [1995]. Falei com o [então diretor da Globo] Boni e ele fez uma auditoria. Descobriu que pessoas do departamento de fotocópia vendiam capítulos para revistas e mandou todo mundo embora. Agora, com "Passione", voltei a ter problemas e tive que picar capítulos e mandar para atores só a sua parte. Só a [diretora da novela] Denise [Saraceni] sabia a ligação entre as cenas. Quase sempre percebemos quem passou. A coluna que dá a informação publica uma nota de um ator mixo, que obviamente está pagando aquele favor. Isso sem falar do roubo, que é inaceitável. Na época, falei para a Globo que se isso não fosse resolvido eu mesmo ia vender! Vendiam meu capítulo sem nem me pagar direitos autorais!

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.