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As dez piores atrações da televisão em 2010: uma retrospectiva

Mauricio Stycer

15/12/2010 11h00

Ao longo do ano, fiquei diante da televisão mais tempo do que eu gostaria, mas menos do que seria necessário para fazer um balanço completo do melhor e do pior que aconteceu. Por isso, montei uma retrospectiva bem pessoal, sem a ambição de cobrir todo o seletor de canais, com os destaques, positivos e negativos, da minha aventura diante do aparelho em 2010.

Publico hoje a primeira parte, dedicada aos piores do ano.

Maior tombo: Com ambição de renovar a televisão brasileira, propondo "novas formas de diversão" e "pegadinhas do bem", "Legendários" foi a principal aposta – e a maior decepção – da Record no ano. Sem graça, sem timing e sem direção, o programa idealizado por Marcos Mion sofreu tantas reformulações em poucos meses de vida que terminou o ano irreconhecível.

Maior constrangimento: Deu pena ver a ótima Glenda Koslowski travestida de apresentadora do reality "Hipertensão", na Globo. Diante da tarefa de um candidato, obrigado a beber uma mistura de vermes, fígado e óleo, tudo batido no liquidificador, Glenda orientou: "Se tiver ânsia de vômito, pode vomitar dentro do copo e continuar bebendo. Se vomitar fora, está eliminado". Rigorosa, ainda advertiu o candidato: "Tem que beber até o fim. Não. Ainda tem um pouquinho". Uma tragédia.

Piada mais sem graça: A Band leva o troféu por sua tentativa de animar a grade de domingo com "Formigueiro". Grande sucesso na Espanha, o programa causou sorrisos amarelos e deixou o humorista Marco Luque, um dos apresentadores do "CQC", em maus lençóis. Na tentativa de salvá-lo, o programa já mudou de horário.

Guinada mais surpreendente: Com a audiência cambaleante, Ana Maria Braga trocou a apresentação de receitas pelo jornalismo policial. Num momento "Datena light", ocupou o seu programa feminino com reportagens sensacionalistas sobre os casos do momento – o desaparecimento da ex-amante do goleiro Bruno, a morte da menina que recebeu vaselina em vez de soro etc. etc. etc…

Pior novela: A concorrência é dura neste tópico, mas "Tempos Modernos" conseguiu superar "Ribeirão do Tempo", com honras. A comédia de Bosco Brasil, passada num centro de São Paulo totalmente "maquiado", jamais encontrou o tom certo, perdeu o fio da meada e causou bocejos no público, que a abandonou. Antonio Fagundes, no papel principal, parecia entediado e a homenagem à Galeria do Rock, aparentemente uma boa ideia, resultou patética.

Maior ridículo: A reportagem do "Domingo Espetacular", da Record, sobre "Bilu", o ET de Corguinho, entrou para os anais da tevê brasileira. Levando a sério um assunto grotesco, a emissora ainda passou pelo vexame de ser contestada pelos ufólogos que cuidam do extraterrestre, que acusam o repórter de ter evitado se aproximar de Bilu.

Campeão do trash
: Depois de um período meio chocho, Luciana Gimenez recolocou seu "Superpop", na RedeTV, nas paradas de sucesso ao receber a dançarina Scheila Carvalho, em maio. Grávida de seis meses, a morena do Tchan se submeteu a um ultrassom no programa. "Ô barriga linda", derreteu-se Luciana, passando a mão. "Realmente, é uma das barrigas mais lindas que eu já vi", confirmou o médico.

Sensacionalismo flop: A anunciada ida de Guilherme de Pádua, assassino da atriz Daniela Perez, ao "Programa do Ratinho", no SBT, em abril, gerou enorme expectativa graças à ameaça da novelista Gloria Perez de processar o ex-ator caso ele fizesse alguma revelação mais grave. Resultado: Pádua não falou nada a Ratinho.

Pior repaginação: No ar desde 1986, o "Roda Viva" se tornou o mais respeitado programa de entrevistas da tevê brasileira. Em agosto de 2010, culminando a série de demissões, extinção de atrações e mudanças na grade da TV Cultura, o programa perdeu toda a sua originalidade. Ganhou Marília Gabriela como moderadora, dois entrevistadores fixos e um cenário que eliminou a "roda" e acabou com a sua vivacidade.

Maior chatice: Poucas novelas foram tão chatas quanto "Viver a Vida". Manoel Carlos perdeu a mão em mais uma trama ambientada no Leblon e protagonizada por uma Helena. Aliás, o papel de Taís Araujo diminui na mesma proporção da sua falta de carisma. O merchandising social, em torno da personagem de Aline Moraes, abusou da paciência do espectador. E o eterno garanhão vivido por José Mayer não agüentou o ritmo. Na sequência, veio "Passione", mas esta fica para a segunda parte da retrospectiva.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.