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SS, 80

Mauricio Stycer

13/12/2010 07h55

Quase uma unanimidade, Silvio Santos completou 80 anos neste domingo longe dos fãs, mas presente na tela do SBT, que exibiu homenagem de suas filhas ao pai e imagens antigas do mais longevo programa da televisão brasileira. O UOL Televisão publicou um especial sobre Silvio, incluindo um texto meu, que reproduzo abaixo. Os links para os demais textos podem ser encontrados aqui

Silvio Santos festeja aniversário de 80 anos em momento amargo

Em 1970, então na revista "O Cruzeiro", o jornalista Arlindo Silva procurou Silvio Santos para fazer uma reportagem. O resultado foi publicado em seis páginas, com o título "O fenômeno Silvio Santos".

O apresentador gostou do que leu e se abriu para uma conversa mais longa com Arlindo. Os encontros renderam uma série de reportagens na revista, publicadas ao longo de dez semanas, com o título geral de "A Vida Espetacular de Silvio Santos".

Para Arlindo, o encontro resultou no convite para trabalhar com Silvio, de quem acabou se tornando assessor por 25 anos. A confiança estabelecida permitiu que escrevesse a única biografia do patrão, "A Fantástica História de Silvio Santos", publicada em 2000, nas comemorações dos 70 anos do empresário.

O livro é, até hoje, a principal fonte de consulta sobre a vida e a trajetória do "homem do baú", que completa 80 anos neste domingo, 12. Página após página, o leitor se dá conta que o biografado estabeleceu suas principais relações profissionais segundo um mesmo padrão de comportamento – bateu o olho, simpatizou, trouxe para perto de si, ganhou confiança, virou funcionário de carreira.

O critério serviu para contratar gente com quem conviveu numa pensão em seus primórdios em São Paulo, ao ver um office boy em atividade numa repartição pública e no convívio com familiares. "Não sei se é muita sorte ou se é mesmo faro, mas eu sinto quando a pessoa é boa ou não, honesta ou não, dedicada ou não, capaz ou não", diz Silvio.

É fácil dizer, hoje, que esta autossuficiência e, de certa forma, messianismo contribuiu para a grave situação em que se meteu. O empresário ofereceu todas as suas empresas como garantia da dívida de R$ 2,5 bilhões do banco PanAmericano, dirigido por figuras de sua total confiança. Com este seu maior e retumbante fracasso, colocou em jogo todo o patrimônio construído em mais de 60 anos.

Mas a verdade é que Silvio Santos vem dando, ao longo de sua carreira na televisão, sucessivas mostras de que este comportamento baseado na intuição, no piscar de olhos, colhe bons frutos, mas também muitas tempestades.
Na fase áurea, Silvio Santos inovou ao promover uma campanha publicitária festejando o fato de o SBT ser vice-líder de audiência, atrás da Globo. Exótica, a propaganda explicitava não apenas a falta de ambição, mas de visão do empresário.

Com seu jeito errático de lidar com a programação, apostas erradas, desinteresse por jornalismo e, sempre, excesso de autoconfiança, o empresário perdeu o rumo nos últimos anos e viu sua rede ser ultrapassada pela Record.

Aos 80 anos, de férias, com a família nos Estados Unidos, Silvio Santos tem muito o que comemorar, mas não deixará de sentir um gostinho amargo nesta data. Que caminho seguir? À espera da resposta que dará a esta pergunta, todos que o admiram desejam um feliz aniversário.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.