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Bilu, o ET de Corguinho, questiona a Record

Mauricio Stycer

18/10/2010 14h33

Comento com atraso, mas acho que ainda vale a pena, uma reportagem do programa "Domingo Espetacular", da Record, exibida no dia 10 de outubro. O site da emissora resume muito bem o assunto em questão:

Urandir Fernandes de Oliveira, que se apresenta como paranormal e ufólogo, lidera uma comunidade em Corguinho (MS), o Projeto Portal, que seria uma cidade refúgio, construída com orientações de alienígenas para proteger os habitantes de uma catástrofe prestes a atingir o mundo. A equipe do Domingo Espetacular acompanhou as atividades do grupo e esteve diante do que seria um extraterrestre. Assista!

A reportagem dura 21 minutos – uma eternidade em matéria de televisão. O ponto alto é a visita noturna ao local onde a equipe do programa avista Bilu, o tal ET. Bilu aparece a poucos metros da câmera. "Qual é a sua mensagem para a Terra?", pergunta o jornalista. E Bilu responde, em português: "Apenas que busquem conhecimento"

O tom da reportagem é sóbrio. O Projeto Portal de Urandir é apresentado seriamente, em detalhes. Diversos participantes são entrevistados e o repórter narra o assunto com distanciamento, creditando todas as crenças e maluquices aos próprios membros.

Os últimos cinco minutos da reportagem são dedicados a desconstruir o que os primeiros 15 minutos mostraram. Dois peritos analisam as imagens de Bilu e dizem que se trata de uma fraude. Um ufólogo entrevistado classifica o Projeto Portal como "uma seita perigosa". Um pesquisador diz que a comunidade é uma espécie de religião e o ET seria aquele que traz "a revelação". E uma ex-frequentadora diz que aquilo é "um embuste".

No último minuto, o repórter diz que Urandir, em 2000, foi indiciado por estelionato e falsidade ideológica, acusado de vender ilegalmente terrenos em Corguinho. E encerra a reportagem sem uma conclusão, deixando a missão ao espectador.

A reportagem parece tecnicamente perfeita. O problema que vejo está justamente aí:  tratar com seriedade e dar verniz de respeito a um assunto claramente inverossímil. É uma forma de fazer sensacionalismo sem gritar.

Mas há um outro problema, e quem o levantou foram os integrantes do Projeto Portal. "A Record não honrou os seus acordos e não divulgou o que o extraterrestre pediu", diz um vídeo da comunidade que mostra bastidores da reportagem não exibidos no "Domingo Espetacular". Segundo estas imagens, Bilu pede para apertar a mão de uma pessoa identificada como Cristiano, produtor da emissora, mas ele se recusa.

No curioso diálogo entre Bilu e Cristiano, exibido no vídeo do Projeto Portal, o ET de Corguinho pede que o jornalista se aproxime, mas ele prefere se manter à distância. Na reportagem exibida pela Record, ao contrário, o repórter informa que "a distância permitida não foi suficiente para imagens de melhor qualidade". Procurada por este blogueiro, a emissora credita a contestação ao "tom crítico" da reportagem.

Ao levar a sério o ET de Corguinho, a Record acabou se envolvendo numa polêmica que a expõe a piadas.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.