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Dois grandes fotógrafos em busca de liberdade

Mauricio Stycer

28/09/2010 11h49

J.R. Duran e Bob Wolfenson fazem parte de um seleto grupo de fotógrafos – aqueles cujo trabalho você reconhece sem precisar procurar pelo nome do autor nos créditos. Ambos construíram carreiras muito bem-sucedidas na mídia e na publicidade registrando, com olhares originais, mulheres bonitas, artistas, gente rica e famosa.

Por coincidência, Duran e Bob acabam de publicar trabalhos que, de alguma forma, mostram a necessidade de ir além do universo de glamour e futilidade ao qual são associados. Acostumados a fotografar sob encomenda, os dois estão vindo a público expressar  inquietações e curiosidades em projetos "autorais" ambiciosos e provocadores.

Em "Apreensões" (Cosac Naify, 48 págs, R$ 50), Bob registra imagens de objetos apreendidos por policiais em diferentes Estados do país. São metralhadoras, carros, máquinas caça-níqueis, balas de fuzis, telefones celulares, serrotes e, até, animais silvestres. Vistas em sequência, as imagens compõem um painel impressionante, uma espécie de portfólio do crime no país.

Realizadas nos depósitos da polícia, as fotos são retratos estáticos, sem movimento e sem face – apenas vemos os frutos do crime e da violência expostos, agrupados de forma desordenada, tal como foram apreendidos. De forma inteligente, o olhar do fotógrafo leva a uma reflexão importante sobre a realidade brasileira.

Já Duran acaba de publicar a "Rev. Nacional", uma revista em formato gigante, de 144 páginas, recheada com diferentes trabalhos seus e textos de amigos jornalistas e escritores. A ambição do fotógrafo era realizar um livro sobre o Brasil, mas acabou optando por uma revista – ou, segundo ele, por um fascículo da história do país. Se tudo der certo, serão dez fascículos, um por ano, formando uma publicação de 1.440 páginas.

O "devaneio", como chama, teve origem num trabalho com índios na Amazônia. A partir daí, Duran resolveu mostrar diferentes faces da realidade nacional – uma coleção que inclui mulheres lindas, torcedores na arquibancada, o skyline de São Paulo, artistas, políticos e celebridades.

Com a ajuda da gráfica Burti, Duran imprimiu 2 mil exemplares da "Rev. Nacional". Infelizmente, a revista não está à venda. Quem se interessar deve enviar um e-mail para revista@burti.com.br.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.