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60 anos? TV brasileira parece ter apenas seis meses de vida

Mauricio Stycer

17/09/2010 09h58

Por volta das 11 da noite, na Globo, uma moça come um gafanhoto, uma outra ingere um ratinho e um sujeito engole uma barata. Na Record, Tom Black bate Nise Palhares e se classifica para a final de um programa de calouros cujo formato foi criado nos Estados Unidos e é exibido em outros 40 países. Na RedeTV, "famosos fazem regressão" e um deles, engatinhando, "encontra" a avó que morreu quando ele tinha apenas 2 anos. Na Gazeta, Ronnie Von recebe Marcos Oliveira, o Beiçola de "A Grande Família", que diz: "O Beiçola gostaria muito de ser o Ronnie Von". Na "Praça É Nossa", no SBT, um "comediante" conta a seguinte piada: "Uma descarga dá pra disfarçar. Mas duas descargas você fez cocô".

A televisão brasileira está completando 60 anos, mas parece ter apenas seis meses de vida. Vive um momento de regressão, como o promovido por Luciana Gimenez em seu programa. Todo o desenvolvimento tecnológico recente tem sido usado no esforço de rebaixamento da qualidade, em busca de um espectador com idade mental na faixa dos 10 anos.

Há exceções, é claro. Mas o panorama geral, na TV aberta, é desalentador. Sensacionalismo, assistencialismo, populismo: eis a tríade que governa a programação hoje – matinal, vespertina e noturna. Embalando tudo isso, o conservadorismo, já que é muito mais fácil, e menos arriscado, comprar (ou copiar) formatos estrangeiros já testados do que investir em inovação.

Qualquer critica a este modelo é vista com desprezo sob o argumento que o objetivo básico da TV aberta é o entretenimento. Não está se questionando este princípio. O problema é achar que o espectador é uma criança que não quer pensar.

Em tempo: No UOL Televisão, há um especial sobre os 60 anos da televisão no Brasil. Eva Wilma e Lima Duarte falam dos primórdios aqui. Tem um quizz aqui e um álbum de fotos históricas aqui.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.